1° Capítulo

“- Idiota! Mentiroso!”

Acordei ofegante e cocei os olhos com força.

Às vezes eu tinha uns pesadelos, como qualquer pessoa normal, claro, porque é isso mesmo que eu sou. Apesar de algumas pessoas só me verem como o “cantor perfeito”.

Faço tudo que posso para ser melhor, mas nunca serei perfeito e reconheço.

Olhei para o lado da cama gigante, de um hotel luxuoso e vi uma loira, que dormia tranqüila e sem roupa, apenas coberta por um edredom, assim como eu.

Claro que eu me lembrava da noite anterior, da menina quase se jogando em cima de mim e do nome dela também. Sempre bebia, mas nunca fiz vexame em lugar nenhum, quando começava a ficar tonto parava de beber e terminava o resto da minha noite em um hotel, com uma mulher bonita que eu conhecia na noite. O que não me faltava, era opção.

Me levantei da cama e fui até o banheiro tomar um banho para refrescar o calor que fazia dentro daquele quarto e acredito não ser pela noite anterior.

Sai do banheiro, já de bermuda e secando meus cabelos.

- Demorou! – Carla, tinha um sorriso no rosto.

Já estava trocada, mas ainda sim sentada na cama.

- Acordou faz tempo?

- Um pouco...Me liga!-  Me entregou um papel e eu assenti, enquanto ela se levantava.

Passou por mim e me deu um beijo no rosto, antes de sair do quarto.

Joguei o papel pro alto e me joguei na cama, com os olhos fechados.

Eu gostava da minha vida, gostava do sonho que sempre sonhei e estava vivendo, e até gostava de muitas mulheres aos meus pés, quando eu chegava em algum lugar, mas eu sentia falta de alguma coisa. Parecia que a minha vida era perfeita mas ao mesmo tempo me faltava algo, que eu não sabia identificar de jeito nenhum. Ou sabia e não queria admitir.

Me mandaram uma mensagem e em minutos, eu já estava pronto para ir almoçar em um restaurante fora do hotel com a minha equipe.

Fomos conversando animadamente dentro da van, fazendo piadas e contando coisas engraçadas.

Nos sentamos em uma mesa gigante, assim que chegamos e voltamos a conversar, enquanto a comida não vinha.

Mas algo me chamou a atenção e eu fiquei calado. Nada muito interessante, que as pessoas estão acostumadas a parar e ficar prestando a atenção, mas para mim, aquilo foi motivo de prender a minha atenção por alguns minutos.

Um casal, parecia ter a minha idade, sentados em uma mesa um pouco mais afastados, o restaurante não tinha muita gente, dava para vê-los perfeitamente, mesmo um pouco de longe.

Eles falavam sem parar, riam alto, sem se importarem com as pessoas olhando, ou falando mal, não ligavam. Depois de um tempo, começaram a trocar carícias, beijos e abraços, ele mexia no cabelo dela e ela mexia em seu rosto, não paravam quietos.

Até que a comida deles chegou antes da nossa e mais uma vez me surpreenderam.

Eles colocavam um na boca do outro, limpavam com o guardanapo, uma sintonia incrível que tinha naquele casal, uma energia positiva que contagiava qualquer pessoal que prestasse mais a atenção. Eram visivelmente apaixonados.

A nossa comida também chegou e Roberval me cutucou desconfiado, só então acordei do transe.

Comi, enquanto só ouvia eles falarem alguma coisa, que eu não prestava a atenção e olhava para a mesa do casal, só que agora, disfarçadamente.

Já na nossa sobremesa, as pessoas da minha mesa perceberam que eu estava disperso demais, mas nada falavam.

Resolvemos voltar para o hotel, ainda faltava uma hora para embarcarmos para outra cidade.

No estacionamento do restaurante, novamente aquele casal estava por perto, só que dessa vez mais próximos.

Ele abriu a porta para ela entrar, gargalharam juntos, pareciam um poço de felicidade.

Sacudi a cabeça e entrei na van, depois que todos já tinham entrado.

Me despedi deles, assim que chegamos e mesmo com muita insistência, eu não quis ir conversar na área da piscina e fui para o meu quarto, com a desculpa de descansar.

Eu não sabia mais o que estava acontecendo comigo, sabia que era carência, falta até de pai e mãe, mas estava confuso.

Me deitei na cama e uma coisa que quase não acontecia, aconteceu, eu chorei feito criança. Do nada, o choro veio e eu o soltei, sem ter mais medo daquilo.

Dormir sem perceber e acordei com batidas na porta da minha assessora, que se assustou quando viu meu rosto inchado, mas eu disfarcei dizendo ser o sono pesado que tive, o que não era completamente mentira.

Me arrumei rápido e logo desci para o carro.

O resto daquela semana se passou daquele jeito. Eu não falava direito com as pessoas, eu não comia direito, só no palco eu era eu mesmo, mas depois a realidade voltava.

Voltei para casa no começo da outra semana e me lembro de ter acordado com muito frio, mas já estava coberto, suava bastante e minha mãe estava sentada na cama, acompanhada de um homem.

- Mãe! – Eu dizia muito baixo.

Meus olhos, quase não conseguiam se abrir.

- Filho, você está delirando de febre! O doutor já vai ver o que você tem. – Ela acariciava o meu cabelo completamente suado.

Apenas assenti e voltei a fechar meus olhos, que pesavam muito.

Acordei novamente bem mais calmo e mais relaxado, já não sentia mais tanto frio, porém, continuava coberto.

Assim que me sentei na cama, minha mãe entrou no quarto com uma bandeja.

- O que eu tive?

- Só febre mesmo... – Peguei a bandeja de seus braços e levei a colher com a sopa, até a boca.

- Está com fome? – Assenti. – Que bom! – Ela sorriu, enquanto acariciava o meu rosto. – Filho... – A encarei. – Me fala a verdade, por favor. O que você vem sentindo? Está passando mal e não quer contar? – Respirei fundo e pensei três vezes, antes de me abrir com minha mãe.

- Na verdade, mãe...Eu não venho sentindo nada físico,  entende? – Ela me olhou confusa.- É mais emocional! Eu venho sentindo uma coisa estranha no coração...Não sei explicar direito, mas não é bom! Eu não tenho mais vontade de conversar com ninguém, nem de brincar, me abrir, como estou fazendo agora...Só fico bom no palco e depois tudo acaba! – Suspirei, como se tivesse tirado um peso das costas.

Minha mãe me olhou por algum tempo, calada, me deu um beijo no rosto e saiu dali, ainda calada.

Continuei a comer e não sai mais da cama naquele dia, não tinha vontade.

Me lembro, que na segunda feira, fui acordado cedo pela minha mãe e estranhei.

- Mas só tem show amanhã! – Eu resmungava, sem querer me levantar.

- Vamos para outro lugar!

- Pra onde?

- Vamos logo, Luan! – Não quis discuti.

Tomei um banho e fui junto com a minha mãe, que dirigia, para algum lugar de São Paulo, que eu não sabia qual era.

Paramos em frente a uma clínica e descemos do carro, mesmo não entendendo nada, eu a seguia.

- Bom dia, senhora! A doutora, já está á espera de vocês! – A secretária, sorriu simpática.

Não tinha mais ninguém ali.

Li a típica placa que tem nas paredes de consultórios médicos e levei um susto.
"Psicóloga : Doutora Carolina."

- Psicóloga, mãe? – Falei em seu ouvido e ela assentiu, enquanto me puxava pela mão. – Não acredito! – Eu sussurrava mais para mim do que para ela, que fingia não ouvir nada.



Quero opinião de vocês nesse primeiro capítulo. O que acharam?
O começo diferente? Ficaram interessadas? Não? :x kk Me falem.