Capitulo 3

- Fala, Marcelo!

- Nossa, Carol! Também te amo...

- Nem vem com esse papo não. O que você quer?

- Já está em casa? Queria falar com a Eduarda!

- Agora você lembrou dela? Depois de dois meses.

- Eu estou na Argentina, Carolina! Você sabe disso, eu preciso trabalhar! – Ele falava calmo.

- E tem uma filha também, que precisa da sua atenção, se esqueceu ?

- Não me esqueci de nada, mas não posso largar tudo.

- Tudo bem, Marcelo! – Suspirei. Não tinha jeito mesmo.

Marcelo, sempre foi sem noção, o garoto mais bonito da escola, porém, mais galinha e eu sempre gostei dele.

No começo, ele me esnobava demais, mudei de cidade e nunca mais nos vimos. Nos encontramos na faculdade depois de alguns anos, ele se lembrou de mim e começou a marcar em cima, até a minha paixão por ele voltar.

Começamos a namorar e estava tudo indo perfeitamente bem, como em meus sonhos, que eu tinha com ele, porém, eu vi a realidade como um tapa na cara quando engravidei dele aos vinte e dois  anos e tive o bebê com vinte e três, que para uns nem parece tão pouco, mas para mim era.

Mesmo depois estando formada e Marcelo também, morando sozinha e ele também, nunca tínhamos pensado em casamento nem algo do tipo. Ele ainda só queria curtir, sempre teve responsabilidade com seu trabalho, se formou em direito, mas nunca pensou em ter um filho com aquela idade.

Brigamos e como na maioria das vezes que acontece com os casais, ele me deixou grávida.

Não me abandonou, assumiu a paternidade, sem nem pedir um teste de DNA, como é típico dos homens, mas também não quis ficar mais comigo.

Desencantei de vez com aquele homem, que não era nada do que eu pensava.

Desde então, estava separada dele à dois anos e sem nenhuma vontade de ter algum tipo de relacionamento com alguém. Estava correndo de homens, muito mal ficava com um ou outro em uma balada, que era ainda mais difícil de eu ir, desde que virei mãe.

Mas apesar de tudo, não me arrependo de ter tido minha filha, que era linda e o motivo do meu sorriso todos os dias.

Eu e Marcelo não éramos inimigos mortais, nem nada, pelo contrário, ficamos amigos depois que Eduarda nasceu, mas brigávamos muito quando o assunto era ela, principalmente, quando ele resolvia esquecer que tinha uma filha.

Na maioria das vezes era realmente pelo trabalho, por viajar muito, mas tinha dias que ele simplesmente preferia curtir, longe de dela, o que me enlouquecia de ódio.

Ele pagava pensão só porque eu achava certo, já que ele fez a menina junto comigo, mas nunca precisei.

Meus pais, tinham falecido à um ano, o que ainda me tocava muito também, eram tão apegados a Eduarda. No começo, não gostaram nada, meu pai nem falava comigo, mas depois que ela nasceu, amoleceu o coração deles.

Meu pai, era o advogado mais famoso de São Paulo, seu escritório era o mais procurado, ele que tinha me dado também o meu consultório, antes de falecer em um acidente de carro, onde o caminhão atingiu o carro em que estavam, em cheio.

Desde então, passei a administrar o escritório dele, mesmo não sendo advogada, claro que eu tinha uma pessoa de confiança lá, mas gostava de ver como as coisas iam de perto, e depois de muito insistir, deixei que Marcelo trabalhasse lá como um dos advogados. 

No começo, não queria deixar de birra mesmo, mas ele sempre foi muito bom no que fazia e quando começamos a nos dar bem, eu deixei com que entrasse.

- Está em casa? – Ele voltou a perguntar.

- Estou indo para lá.

- Então depois eu te ligo! Estou voltando amanhã.

- Tanto faz!

- É sério, Carolina...

- Também estou falando sério, Marcelo. Um telefonema por dia para sua filha, não iria custar a sua mão.

- Meu Deus, eu trabalhei demais nesses dois meses!

- Está bem, sei que não vai adiantar mesmo. Não tem responsabilidade nem quando o assunto é você, quem dirá sua filha...

 - Nem vem com esse papo, eu sou muito responsável!

- Só é quando quer! Só com o seu trabalho, que você ama, só com as coisas que gosta...

- Tá insinuando que eu não amo nossa filha?

- Não estou insinuando nada!

- Ainda bem! Não quero brigar com você! Mas amanhã eu estou voltando e passo lá cedo. Sei que não vai trabalhar!

- Quem te disse?

- Eu perguntei a Fernanda... – Era minha secretária.- E como ela é caidinha por mim, me disse. – Ele riu.

- Idiota!- Sussurrei e não agüentei, rindo também.

Me despedi do Marcelo e fui para casa.

Quando cheguei, minha filha, comia um pedaço enorme de pizza, toda lambuzada.

- Meu Deus! Quem te deu isso pra comer, filha? – Ela ria pra mim.

- Oi, mamãe! – Ainda falava embolado, pela sua idade.

- Oi, amiga! – Escutei a risada de Eloá. – Pedimos pizza! – Ela se sentou no sofá.

- Tinha que ser você! – Neguei com a cabeça. – Pedir pizza em plena segunda feira pra essa criança, que precisa de uma dieta! – Ri e apertei as bochechas de Eduarda, que ainda comia entretida. Dei um beijo nela.

- (risos) Estava com vontade! – Ela deu de ombros.

- Cadê a Suzi? – Minha babá.

- Mandei ela ir embora! – Eloá, riu.

- Meu Deus! – Ri também. – Vou tomar um banho, se comportem! – Gritei, enquanto subia as escadas.

Coloquei um pijama confortável e fui comer pizza com elas, que escutavam uma música e cantavam alto, quando cheguei.

- Cê topa? – Eloá cantava e Eduarda gargalhava.

- O que é isso, em?

- Eu, cantando a música do gostoso do Luan!

- Menina! – Me sentei ao lado dela, que riu. – Você não vai acreditar... – Disse de boca cheia.

- O que?

- Nem era pra te contar, não fala pra ninguém, entendeu? Ou eu te mato!

- Nossa! – Ri.

- Hoje meu paciente foi o Luan Santana.

- Mentira! – Ela colocou as mãos na boca.

- Sério!

- Como aquele gato, que tem tudo, pode ir em uma psicóloga?

- Aí que entra o preconceito das pessoas, ele é gato, é rico, mas não tem o coração preenchido!

- Ah! Tadinho! Vou preencher o coração dele! – Ela gargalhou.

Fiz careta.

- Eu tô falando sério!

- Eu também, Carol! – Ela voltou a comer sua pizza.




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