Capítulo 34

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Fui dormir cedo junto com Eduarda naquele dia, que foi tão bom. Estava feliz pelo Marcelo e torcendo para que voltasse a se dar bem com a minha filha.

Fui para o escritório e voltei mais cedo que o normal. Meu celular tocou, enquanto eu via televisão e Eduarda brincava no chão da sala.

- Oi, Luan.

- Até que enfim, Carolina! O que aconteceu?

- Nada, por que?

- Você não me atende a tempos?

- Desculpa! Estava ocupada. – Dei uma desculpa qualquer, para falar a verdade, eu nem estava lembrando dele.

- Nossa! Pensei que estaria sentindo minha falta, assim como sinto a sua. – Ele foi direto e eu suspirei.

- Desculpa, mesmo! Eu to cheia de coisas pra fazer.

- Tudo bem! Sei que não gosta de mim igual eu gosto de você.

- Para com isso, Luan! Quem vê assim pensa que eu sua uma vilã com você.

- Só estou dizendo a verdade! - Ouvir ele bufar do outro lado da linha.

- Não está, não! Eu tenho coisas pra fazer, sabia? Tenho uma filha pra criar.

- Eu sei muito bem disso, você mesma não me deixa esquecer. – Ele parecia estar perdendo a paciência e eu mais ainda.

- Por que você vive falando o que não deve!

- Não tem tempo pra me mandar uma mensagem, mas pra passar o dia com outra pessoa tem. – Ele disse e eu fiquei sem acreditar no que tinha acabado de ouvir.

O ouvir suspirar do outro lado, talvez, arrependido de ter tido aquilo de cabeça quente.

- Olha...Eu não vou nem te responder a altura. Você sabe muito bem que o Marcelo é pai da Eduarda, que ele vem aqui o dia e a hora que ele quiser, ver a filha dele e essa casa  minha, então com certeza eu vou estar. E só pra te lembrar, a gente não tem nada! – Eu me estressei de vez e soltei tudo que veio na cabeça.

- Você sempre faz questão de jogar isso na minha cara. Mi pesa mesmo! Só porque sabe o quanto eu to na sua. – Coloquei a mão livre sobre o rosto, sem acreditar.

- Só estou te falando o obvio, Luan! Você me cobra uma coisa que não pode cobrar.

- Eu só gosto de você! Isso é algum pecado? – Ele quase gritou.

- Não é pecado nenhum, mas eu já cansei de te dizer uma coisa e você pensa que eu estou brincando.Não sou essas menininhas que você fica, não. Eu tenho uma casa pra cuidar, eu tenho um emprego. Tenho outra pessoa que depende de mim. Você não entende? Claro que não! Você não tem nada disso!

- Você é uma grossa, sabia? É isso que eu acho de você, desde...

- Que eu te dei um fora?

- Também, com aquela grosseria toda e faz questão de me lembrar isso a cada segundo da minha vida.

- E você é um dramático!

- Você não tem sentimentos, não? – Respirei fundo, fechando os olhos.

- Eu vou desligar antes que eu diga pra você o que eu não quero dizer. Eu sou desse jeito e vou ser pra sempre. Tenho sim sentimentos que aumentou ainda mais depois que me tornei mãe, quando você tiver seus filhos você vai saber como é isso. Eu só queria que você entendesse que a gente não tem nada sério, que essa sua crise agora foi desnecessária. – Ele ficou mudo e eu desliguei o telefone o mais rápido que pude.

Me joguei no sofá e fiquei pensando naquela nossa “conversa”.

Ele não me entendi, eu não entendia ele e isso só iria piorar. Saí dos pensamentos com Eduarda falando que estava com fome. Me levantei indo em direção a cozinha e por um momento, até esqueci que minha filha estava ali. Mas como sempre, ficou quietinha brincando na sua e nem deve ter prestado a atenção em nada que eu disse.

Me levantei cedo no outro dia e me despedi da minha filha e de sua babá, antes de sair rumo ao meu consultório.

Meu celular tocou meio dia, com o número da minha casa e eu estranhei.

- Oi, Suzi! Aconteceu alguma coisa? – Logo perguntei.

- Não, nada com a Duda. Mas é que eu estou passando um pouco mau. – Ela disse sem jeito.

- Sério? Só tenho mais uma consulta nesse exato momento, pode ir que eu pego Eduarda na escola. Vou ligar pra lá e dizer que vou atrasar um pouco.

- Muito obrigada, dona Carol!

- O que é isso! Vê o que você tem, em.

- Fica tranqüila, é só uma enxaqueca das bravas. – Me despedi dela.

Como tinha lhe dito, atendi a ultima paciente e corri para a escola de Eduarda, que já foi me encontrar reclamando do meu atraso.

- Desculpa, filha! A Suzi foi pra casa passando mal e eu ainda tinha uma consulta. – Beijei seu rosto e peguei sua mochila.

Fomos andando com ela contando que tinha feito um desenho na aula e me pediu para ver. Enquanto procurava na sua mochila de cabeça baixa, me esbarrei em alguém.

- Carolina? – A mulher falou e eu a olhei.

- Eu.

- Não está me reconhecendo? – Ela sorriu.

- Melissa. – Lhe olhei bem. Era ela mesmo.

Melissa estudava na mesma escola que eu, na mesma turma. Ela era a mais “popular” da escola, fazia sucesso com os meninos com seus cabelos loiros e seus olhos cor de mel grande.

Estreitei os olhos a olhando, ela não gostava de mim. Pelo menos era o que parecia, já que vivia debochando de mim e me olhando com desdém.

- Ah! Oi, Melissa! - Lhe respondi sem muita animação.

- O que faz aqui? – Ela olhou para Eduarda.

- Vim buscar minha filha e você? – Fui gentil.

- Ah, nossa! Ficamos sabendo que você engravidou na faculdade, mesmo.

- Pois é! – Não liguei para seu comentário. – Sua filha? – Olhei para menina loirinha como ela, que estava ao seu lado.

- Deus me livre engravidar com essa idade. – Ela riu. Lhe olhei com desdém.- Minha irmãzinha. – Ela segurou a mão da menininha, que sorriu pra mim e eu retribui. – Eu voltei pra cá a pouco tempo. Se lembra que fui embora no segundo ano? – Assenti.

“Graças a Deus”. Pensei. Já que depois que foi embora, minha vida mudou pra muito melhor.

- Me lembro sim...

- Muita coisa mudou aqui! Queria conhecer as melhores boates, restaurantes chiques. – Ela riu. – Me ajuda, vai?

- É...Eu tenho a Eduarda, não sei se vai dar.

- Ah, você não tem uma babá?

- Tenho. Mas não gosto de ficar muito tempo longe da minha filha.

- Qual é, Carol! Por favor! Olha anota meu número e me passa o seu. – Suspirei discretamente. Já estava prevendo que ela ficaria no meu pé e não estava entendendo aquela aproximação toda, mas deixei para lá. Dei meu número e peguei o seu e graças a Deus, Eduarda reclamou de fome, a desculpa perfeita para eu sair dali o mais rápido possível e foi isso mesmo que eu fiz.

Assim que chegamos em casa, dei um banho nela, mesmo reclamando o tempo todo e depois tive vontade de fazer um jantar para nós e fiz mesmo, que até ficou muito bom.

Lhe coloquei na cama, na hora em que sempre dormia e ela me pediu de novo para que eu visse o tal desenho. Fiquei até curiosa e peguei.

Era um desenho até que bem visível para uma criança de três anos, mas não entendi direito seus bonequinhos.

- Quem são? Sei que essa pequenina aqui é você. – Ri e ela se sentou na cama para me explicar melhor.

- Essa aqui é você, mamãe. – Ela apontou para a primeira boneca de vestido e maior, pulou ela que estava do meu lado e restava dois bonecos. Um de boné e outro com uma coisa no pescoço, parecia uma gravata. – Esse é o Luan e esse, o meu papai! – Ela sorriu me olhando, esperando a minha reação, que não aconteceu.

Ela sempre desenhava, mas nunca o pai, o que me deixou feliz, mas o Luan estar ali no meio, me deixou confusa e me fez lembrar da pequena briga que tivemos.

- Ficou lindo! – Eu disse baixo e sorri fraco, logo em seguida.

- Mãe, cadê o Luan?

- Já disse, filha! Ele está trabalhando muito esse mês.

- Quero ver ele! – Ela fez bico e eu lhe deitei.

- Ele já vai vim! Dorme agora, meu anjinho! – Beijei sua testa e lhe cobri.

Fiquei fazendo carinho em seus cabelos e pra minha sorte, ela pegou no sono muito rápido.