Capítulo 97

- Luan...

- Que beijo? Do que ele está falando, Carolina?

- Amor, deixa eu explicar.

- Eu to esperando. O que aconteceu aqui que eu não sei.

- Espera, a culpa não foi dela...Me desculpa, a culpa foi toda minha.

- Culpa de quê? – Luan o fuzilou com os olhos, deu um passo para frente e eu segurei em seu braço.

- Eu que roubei um beijo dela, me desculpa...

- Você o que? Eu não to acreditando no que eu to ouvindo. Me fala que isso é mentira, Carolina.

- Não, não é. Ele me roubou um beijo mesmo, na verdade, nem foi um beijo porque assim que ele me agarrou eu me soltei. – Luan passou as mãos pelos cabelos impaciente e subiu as escadas.

- Viu o que você fez! – Eu disse a Vinícius, que me olhava com um olhar triste, antes de subir atrás dele.

Quando cheguei no quarto, Luan estava sentado na cama, olhando pro nada.

- Eu não acredito que você fez isso comigo. – Ele sussurrou.

- Eu não fiz nada com você! Me desculpa por isso, mas eu não tive culpa.

- Por que comigo, Carolina?

- Amor...

- Não me chama de amor.

- Para de ser cabeça dura e me escuta?

- E você se coloca no meu lugar.

- Eu to me colocando. Por isso que mesmo sem culpa, eu te peço desculpas quantas vezes você quiser. – Meus olhos começaram a lacrimejar.

- Por que você me escondeu isso? – Ele se levantou da cama.

- Por causa disso...Eu tinha certeza que você surtaria.

- E você acertou. Qual homem gosta de ver outro homem beijando a mulher dele?

- Eu te entendo, Luan. Mas a culpa não foi minha, acredita em mim e a gente para com essa discussão boba.

- Boba? Discussão boba? Outro homem te beija e você fala que isso é uma coisa boba. – Ele riu ironicamente e aquilo me deixou com uma raiva incrível.

- Você disse bem, foi ele que me beijou, eu não beijei ele. Você não acredita em mim, é isso? – Ele se calou e eu não estava acreditando. – Depois de tudo que passamos? Depois de todas as brigas, de todas as dificuldades, você não acredita em mim? Acha que ainda não me conhece o suficiente.

- Quer saber, Carolina? Eu acho sim...Acho que não te conheço o suficiente. Se eu não ouvisse aquela conversa, eu iria morrer sem saber que outro homem beijou você, estando comigo.

- Eu já disse que só queria evitar briga...Eu não suporto mais brigas.

- Pois você não evitou briga, você só piorou as coisas.

- Você que é cabeça dura demais!

- Agora me diz se fosse eu? Você ia conseguir me beijar, me abraçar, depois de saber que outra mulher fez a mesma coisa de baixo do seu nariz?

- Eu não tive culpa! – Eu sussurrei com as lágrimas escorrendo pelos olhos.

- Isso aconteceu aonde?

- Na sala...

- Que com certeza não tinha ninguém, me diz por que foi lá com ele?

- Só me disse que ia me mostrar um negocio e aí...

- E você foi. Como você foi? Eu nunca iria pra um lugar isolado com alguma mulher que tivesse interesse em mim.

- Lugar isolado? É sua casa.

- Não interessa, Carolina! Não tinha ninguém! E você sabe muito bem que ele tinha interesse em você. Olha no meu olho e diz que não sabia que ele queria algo a mais? – Eu não consegui encará-lo simplesmente porque aquilo era verdade. Ele já tinha me cantado assim que chegou.

Apenas chorava, encarando o chão, enquanto sentia os olhos furiosos de Luan em cima de mim.

- Eu te peço desculpas por isso, então. – Foi o que eu conseguir dizer.

- Não me vejo mais te beijando, sabia?

- O que você quer dizer com isso? – O olhei. – Você que se separar é isso?

- Eu to confuso, mas eu sei que eu vou precisar de um tempo.

- Vai precisar de um tempo, Luan? É só dizer se me quer ou não. – Me irritei.

- Dá pra você parar?

- Para você! Tá agindo igual criança...

- Eu? Você que me escondeu as coisas e eu que sou criança?

- Quer saber? Você já me deu provas demais que não me quer mais, já disse que não me conhece, que não confia em mim, que não quer mais me beijar. Você me magoou com essas palavras e agora quem está com raiva sou eu.

- Pode ter certeza que não está nem com a metade que eu estou sentindo. – Ele me olhava com os olhos escuros de ódios e foi a sensação mais ruim que eu já senti enquanto olhava em seus olhos.

- Você quer um tempo? Eu vou te dar um tempo, aliás, vou fazer melhor. Eu vou te dar a vida toda! Tá satisfeito? – Ele ficou calado e aquilo era tudo que eu precisava pra ter certeza que nosso relacionamento tinha acabado. – Vê se cresce!

- Você se diz tão madura, Carolina, já se diz uma mãe tão madura e você que agiu feito criança. Eu nunca esconderia nada de você!

- Será que não? – Aquilo só aumentou mais sua raiva. – E quer saber? Eu preciso mesmo de um homem de verdade, mais velho, não sei. Mas um homem de verdade, que saiba conversar direito e entender as coisas. – Fui para o banheiro do quarto batendo a porta.

Tomei um banho e fiquei horas de baixo do chuveiro, deixando que a água levasse as minhas lágrimas que ainda insistiam em cair sem parar.

A nossa briga tinha sido feia, coisas horríveis tinham sido ditas um para o outro. Não gritamos, não fizemos escândalos, mas doeu cada coisa que eu tive que dizer e o que ele me disse.

Quando enfim sai do banheiro, Luan já dormia na cama junto com Eduarda. Fui pra sacada do quarto e me sentei na cadeira, olhando pras estrelas.

Não sei quantas horas fiquei ali, só sei que eu não sentia sono, nem conseguia me deitar.

Quando voltei para dentro do quarto, o relógio já marcava cinco horas da manhã e as minhas lágrimas, que já não caiam a algumas horas, desceram de novo quando vi o rosto do Luan.

Ele dormia igual um anjo, mas eu sentia raiva de tudo que ele tinha me dito. Como nunca senti antes. Então respirei fundo e fui fazer o que eu tive pensando se faria ou não, quase a madrugada inteira.

Comecei a arrumar a minha mala e a mala de Eduarda. Troquei de roupa e limpei minhas lágrimas, fazendo força para que não descessem mais.

Fui até minha filha e maior dor no meu coração foi naquela hora, que eu tive que tirar a mão do Luan, que estavam em sua barriga. Eu já estava até vendo o sofrimento dela e já estava sofrendo antecipadamente.

Lhe peguei no colo com cuidado, para que ele não acordasse, peguei nossas coisas e desci as escadas da casa sem fazer barulho.

Fiquei sem fazer o que fazer,  quando cheguei do lado de fora da casa, já que eu não conhecia aquele lugar, era mais de uma hora de Londrina.

- Carolina?

- Vinícius? – Olhei para trás e me assustei.

- O que você tá fazendo aqui?

- Eu to indo embora.

- Você...Quer ir comigo? Eu vim no meu carro. – Não pensei duas vezes antes de aceitar, já que eu não tinha outra saída.

Ficamos um tempo em silêncio no carro, até ele ligar a rádio do carro e começar a tocar “Tanto faz”. Desliguei o rádio na mesmo hora, o que fez ele me olhar, mas eu não liguei.

Encostei a cabeça no vidro do carro e fechei os olhos. De vez em quando ele me olhava, mas acho que tinha medo de perguntar algo.

- Você mora em Londrina mesmo? – Puxei assunto.

- É...E você continua em Sampa?

- Continuou. Vou ver se arrumo um vôo pra lá agora pela manhã.

- Tem um vinte pras sete.

- Perfeito!

- Você brigou feio com o Luan, né? Me desculpa, eu sei que a culpa foi toda minha.

- Sabe, eu estava com mais raiva de você, mas já passou. Eu acho que não era pra ser eu e o Luan, não agora. Ele me disse coisas horríveis, que não tinha necessidades.

- Me desculpa de novo, ele tinha que brigar era comigo.

- Eu também acho. Mas Deus faz tudo certo, se for pra ser vai ser, não vai ser você nem ninguém que vai impedir, mas se não for, eu não posso fazer nada.